Caneta maldita, por que não punhal ?

Por que não vaso de cor desigual ?

Por que tudo analisa, desliza e permite

Que a tinta manche apenas papéis ?


Seja punhal, ó caneta maldita,

Troque esta cor por vermelho sangue,

Não manche nem marque mais papéis

Que não exprimem essência de dor.


Caneta maldita marque meu corpo,

Manche em mim a folha de pele,

Marque meu braço, meu rosto, meu peito,

Rasgue as chagas e estirpe a agonia.


Caneta maldita seja punhal

E faça de mim rascunho vivo,

Marque na pele o que brota da alma

E faça singela a canção de meu corpo.


Carlos Savasini

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SÓ QUEM NÃO QUER


Vistas previstas
Cenas comuns
Gosto ao largo do olhar popular

Fotos tiradas
Quadros pintados
Nada de novo nas artes, no enfoque

Versos datados
Vista marcada
Tudo já dito por culpa de quem disse

Mude o foco
Mude o globo
Mude o toque do tambor já cansado

Mude o samba
Mude a pena
Mude o rumo daquilo já dito
Cristo visto de costas
Ego visto de fora
Cego visto sem dó

Só não vê quem não quer

Carlos Savasini

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SÚPLICA


Ainda vinga o nosso pedido
Ainda vence a telepatia
Olhares abertos de fome e desejo
Cardápio que atiça saliva na boca
Vinga o espinho que fere a garganta
Vinga o vazio do garfo que escapa
Pulso que pede gosto e tempero
Boca fechada saliva desejo.

Ainda vinga o bucho vazio
Ainda vence a força da falta
Vista que lança isca e anzol
Busca que alça rede e carretel
Vinga o espeto roliço de ferro
Vinga o carvão de brasa branca e cinza
Pulso que fraco pulsa sem viço
Boca que seca saliva e sertão.

Carlos Savasini
 

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LÁGRIMA QUE RI


Sambista feito palhaço
Ri na roda, chora lá fora
Chapéu na mão, cartola e careca
Lamento no surdo e cuíca.

Carlos Savasini

 



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